O sindicalismo tem como base ideológica fundamental, a solidariedade. Ora, a solidariedade é, entre outras coisas, o auxílio de quem mais pode a quem menos pode, ou em termos económicos será a contribuição de quem têm mais propriedade, quem tem menos, consiga garantir uma boa defesa dos seus direitos laborais.
No sindicalismo, os trabalhadores organizam-se em sindicatos para que com a contribuição de todos, quem necessite, possa ter as garantias de uma defesa plena. Há aqui um princípio de defesa da parte mais frágil da relação, em que quem menos pode e menos poder económico tem, consegue garantir o equilíbrio, sempre muito difícil, na relação laboral.
Numa relação hierarquizada como acontece na PSP, aqueles que estão colocados numa posição hierárquica mais elevada, têm a obrigação de defender os seus subordinados. É um imperativo de liderança. Um líder que não defenda os seus subordinados, funcionando – quase – como um dirigente sindical, jamais terá o respeito deles, com consequências terríveis para a própria missão.
É pois, perante estes dois factores, que nunca concordei com sindicatos de classe, sobretudo quando estes se organizam para admitirem apenas como associados quem tem posições de liderança e de maior responsabilidade. Por um lado, desvirtua-se o princípio fundamental do sindicalismo, já que a solidariedade é apenas para a sua classe, denotando-se até um certo egoísmo e individualismo, exatamente o inverso do que deve ser o sindicalismo. Por outro lado, a desresponsabilização de quem lidera ao assumir esse egoísmo, já que descura na sua atividade, uma das principais funções: a defesa dos seus subordinados, para apenas se centrar na sua própria defesa, levando à sua própria descredibilização, bem como da instituição, já que os subordinados deixam de confiar nos seus líderes.
A estes dois, há que acrescentar um terceiro fator, que se prende com uma visão limitada das lutas laborais, orientadas apenas para a sua classe, sem terem em conta a generalidade dos trabalhadores, entrando numa falsa ideia de que é possível tratar assuntos específicos de determinada classe, sem ter em conta o todo dispositivo. Neste capítulo, vou ainda mais longe, ao entender que a luta de um trabalhador é a luta de todos os trabalhadores, e esta terá mais vantagens, quer para os trabalhadores quer para os empregadores, que se faça de forma global e solidária. Todos os trabalhadores, em nome de melhores condições de vida, devem assumir a solidariedade, como principal desígnio da luta por trabalho digno.
O sindicalismo de classe, é pois uma forma de descredibilizar e enfraquecer essa própria classe perante os seus subordinados, refletindo uma visão egoísta e egocêntrica do trabalho, exatamente o oposto do que deve ser o movimento sindical.
Crónicas assinadas pelo vice-presidente da ASPP/PSP, José Chaves no jornal online Rua Direita