Texto de Josรฉ Chaves, associado e ex vice-presidente da ASPP-PSP

ยซEm 21 de Abril de 1989, quase 15 anos depois da revoluรงรฃo dos cravos, que culminou com conquistas muito importantes em matรฉria de diretos e liberdades, os Polรญcias portugueses ainda lutavam para que essas conquistas tambรฉm lhes fossem extensรญveis.

O acontecimento conhecido por ” Secos e Molhados” faz hoje 32 anos.

Hรก 32 anos, fazia-se histรณria na PSP, com uma luta recheada de perseguiรงรตes, puniรงรตes e intolerรขncia para com o movimento sindical que pretendia apenas ter voz na deliberaรงรฃo do seu futuro que era tambรฉm o futuro da Sociedade que serviam.

E foi essa fรฉ, essa ideia tรฃo fortemente arreigada, que ao tornar-se comum, ao ser partilhada, potenciou-se para alรฉm de quaisquer obstรกculos, destruiu todas as barreiras e emergiu num dia lรญmpido, mas molhado com os canhรตes de รกgua, que o 21 de Abril, como forรงa persistente e premente veio dar corpo ao โ€œmitoโ€ que esteve na sua origem.

E nรฃo houve polรญticos, governantes, militares, hierarquia, que fossem capazes de tolher na inรฉrcia dos seus temores e muito menos antecipar um cenรกrio que era de todo inevitรกvel e previsรญvel.

E se o 25 de Abril de 1974 รฉ o dia da Liberdade, o nosso 21 de Abril de 1989 รฉ o dia da dignidade. ร‰ o dia, depois de muitos dias, que revelamos ao mundo que somos tambรฉm seres dotados de dignidade e exigimos que nos respeitem enquanto pessoas, tal qual todos os cidadรฃos deste paรญs. Em 1989 ainda se lutava por tratamento igual em dignidade e em direitos. Foi assim uma espรฉcie de machadada nos polรญticos e numa hierarquia que nunca souberam antecipar os acontecimentos.

๐•๐š๐ฅ๐ž๐ฎ ๐š ๐ฉ๐ž๐ง๐š?

Como dizia Fernando Pessoa: โ€œTudo vale a pena quando a alma nรฃo รฉ pequenaโ€

Hรก 31 anos que um grupo de intrรฉpidos polรญcias enfrentou o poder polรญtico da altura, colocando em risco as suas vidas e dos seus familiares, mas tambรฉm das suas carreiras para que presentemente, todos nรณs pudรฉssemos ter voz ativa na Instituiรงรฃo PSP e em tudo o que ร  funรงรฃo policial diz respeito. Defrontaram um poder autoritรกrio, arrogante, prepotente e intolerante, um poder que pretendia obediรชncia sem questionar, um poder que nรฃo se inibiu de fazer a maior humilhaรงรฃo a grupo profissional na histรณria da nossa democracia. Mas esses destemidos polรญcias fizeram o 21 de Abril de 1989, garantindo uma viragem histรณrica, numa Instituiรงรฃo com mais de 100 anos de existรชncia.

A minha memรณria nรฃo esquece todos quantos, do alto da sua arrogรขncia, tudo fizeram para que nรฃo tivรฉssemos voz.

A minha memรณria nรฃo esquece quem nos humilhou.

A minha memรณria nรฃo esquece a coragem e a determinaรงรฃo dos que enfrentaram um poder autoritรกrio e prepotente, mas com perseveranรงa conseguiram fazer a revoluรงรฃo dos cravos para os Polรญcias quase 15 anos depois do 25 de Abril.

A minha memรณria nรฃo esquece aqueles que sempre condicionaram a nossa existรชncia, eles continuam aรญ, de forma mais subtil, mas a condicionar igualmente.

A minha memรณria nรฃo esquece aqueles que perseguiram os polรญcias sindicalistas.

A minha memรณria nรฃo esquece os โ€œbufosโ€ que denunciavam quem era da ASPP/PSP.

A minha memรณria nรฃo esquece que, naquela altura, os polรญcias eram unidos, mas que esse poder autoritรกrio e arrogante, quando jรก nรฃo pode com a forรงa dessa uniรฃo, atacou internamente a ASPP/PSP, dividindo os polรญcias com a criaรงรฃo de outros sindicatos.

๐€ ๐ฆ๐ข๐ง๐ก๐š ๐ฆ๐ž๐ฆรณ๐ซ๐ข๐š ๐งรฃ๐จ ๐ž๐ฌ๐ช๐ฎ๐ž๐œ๐ž ๐๐ž ๐จ๐ง๐๐ž ๐ฏ๐ข๐ฆ, ๐ฉ๐š๐ซ๐š ๐จ๐ง๐๐ž ๐ฏ๐จ๐ฎ ๐ž ๐จ ๐ช๐ฎ๐ž ๐Ÿ๐šรง๐จ ๐š๐ช๐ฎ๐ขโ€ฆยป