Reunião interdisciplinar na ASPP | Propostas
No primeiro trimestre deste ano cinco polícias colocaram termo à vida. Este flagelo que se abate ano após ano, sobre a PSP e as restantes Forças de Segurança, é recorrente e, como tal, tem de ser enfrentado com frontalidade e combatido com todas as armas científicas, sociais económicas e humanas que conhecemos.
A Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP) preocupada e consciente do problema dos suicídios nas Forças de Segurança convocou uma reunião para reflexão (razão, oportunidade e consequências), que contou com os seus responsáveis sectoriais (oficiais, chefes e agentes), académicos, especialistas na matéria, enfermeiros e psicólogos clínicos.
Identificação de problemas
A ASPP/PSP tem acompanhado esta problemática há muitos anos, sempre de forma muito discreta, séria, construtiva e responsável e após esta recente reunião interdiscisciplinar, concluiu que existem motivos basilares:
– A particularidade da missão policial, (complexidade, violência, exigência, turnos, trabalho noturno, risco, escrutínio, entre outros).
– As condições de trabalho (estar deslocado em serviço com menos suporte familiar, trabalho suplementar, falta de efetivo e corte de folgas, perda de direitos ao nível da pré-aposentação e assistência na doença, ausência de higiene e saúde no trabalho, fracas condições salariais e estruturais).
– As particularidades pessoais na instituição PSP (o não conhecimento integral da realidade dos profissionais pelos seus superiores hierárquicos, o pouco investimento em conhecer a diversidade territorial e desta forma não aplicar da melhor forma os poucos recursos humanos e operacionais que existem, a não existência de uma linha orientadora nas diretrizes emanadas pela DN em que cada Comando faz a sua própria interpretação e aplicação, o abuso de poder disciplinar muitas vezes descontextualizado, o descurar do interesse dos profissionais como ser humano), são fatores que em nada ajudam no combate ao suicídio.
Reconhecimento de esforços
A ASPP/PSP reconhece o esforço realizado nos últimos anos por parte dos planos e medidas introduzidas, principalmente na criação do Gabinete de Psicologia e disponibilidade de Psicólogos nos diversos comandos, assim como, do esforço de muitos profissionais que têm dado excelentes contributos e apoios dentro das suas possibilidades, contudo, é notória a incapacidade da resposta, face à realidade.
A ASPP/PSP sabe também que a perspetiva da sinalização e do acompanhamento obedecem a momentos e intervenções diferentes e devem contar com a disponibilidade e abertura dos profissionais, mas salientamos a estigmatização que existe na PSP no recurso a esse apoio.
Medidas urgentes
Para um combate mais eficaz ao suicídio nas Forças de Segurança partilhámos as nossas propostas com os diversos Grupos Parlamentares, com o Ministério da Administração Interna e com a Direção Nacional da PSP.
1 – O reforço de recursos humanos nas áreas do SAD-PSP, acidentes de serviço e Gabinetes de Psicologia e aplicação das ferramentas de forma equilibrada por todo o país, para desta forma melhor servir os polícias nos seus cuidados de saúde físicos e psicológicos.
2 – Recorrendo aos recursos humanos existentes, com o apoio do DEP/RH, fazer uma seleção dos profissionais de polícia que tenham habilitações superiores na área da Psicologia, para promover o reforço do Gabinete de Psicologia e para desenvolver apoio nos diversos comandos do país.
3 – A aplicação imediata de legislação de higiene e saúde no trabalho, nomeadamente considerando os riscos psicossociais.
4 – O recurso a autópsia psicológica dos casos já ocorridos, por técnicos habilitados, para estudo e melhor compreensão do fenómeno.
5 – Reforçar a abordagem do módulo que versa sobre psicologia e gestão de stress, aquando da frequência nos cursos de agentes, chefes e oficiais. Bem como na formação contínua, anual, da mesma natureza.
6 – A abertura do gabinete de psicologia e dos planos de prevenção em vigor na PSP, à comunidade científica e universitária, para estudo e partilha de informação, nomeadamente com recolha de dados e divulgação dos resultados, que complemente o trabalho da Divisão de Psicologia e possibilite uma monitorização regular e mais ampla de todo o efetivo, sem sobrecarregar a Divisão de Psicologia.
7 – Criação de uma garantia devidamente atestada, que não implique a perda de qualquer remuneração ou suplementos, no profissional que se encontre a ser acompanhado pelo Gabinete de Psicologia, mesmo em caso de desarmamento.
8 – Manutenção da rede de Psicólogos da PSP, mas também com a complementaridade a protocolos externos, com melhoria da comparticipação do valor na tabela de referência para Psicologia. Assim como, maior divulgação e publicidade da valência Psicologia no SNS para profissionais de segurança, e na efetiva concretização da prioridade dos profissionais da PSP aquando da necessidade e acesso ao SNS, neste enquadramento.
9 – A publicidade e divulgação por todo o efetivo, do ELP (Elemento de ligação à Psicologia) por Divisão/Esquadra policial, sendo que esse elo esteja unicamente nessa missão, sem qualquer prejuízo monetário e em regime de confidencialidade, trabalhando diretamente com o Gabinete de Psicologia.
10 – Melhoria e reforço no acompanhamento das equipas de Psicólogos, aos profissionais envolvidos em ocorrências relevantes do ponto de vista da violência e no efetivo pertencente ao serviço de polícias que cometeram suicídio.
Valorizar a vida é um dever de todos nós! …
#ASPP