O atual Governo possui uma maioria absoluta, obtida após voto popular e que se traduziu numa inequívoca legitimidade governativa.
Tal legitimidade e aparente robustez política, ainda assim, criou no próprio Governo um discurso inicial de diálogo, algo que se percebeu, desde logo, soar a retórica comunicacional.
Recentemente temos assistido a vários episódios, os quais fazem transparecer uma leviandade na escolha das pessoas para os cargos políticos, mas mais grave, demonstra que a qualidade da democracia está em declínio.
E essa análise não deve colocar a discussão apenas em termos judiciais, mas sim, ao nível da apreciação política e nos elementares conceitos de ética e dignidade na ação política.
As maiorias absolutas nunca foram sinónimo de estabilidade e a democracia não se esgota na eleição, e aí, o “povo” tem também responsabilidade, como, por exemplo, pelo alheamento na participação cívica e política a vários níveis.
Por essa razão, também os políticos agem como agem e sentem-se confortáveis, seguros e por vezes deslumbrados, não percebendo alguns sinais que poderão subverter, não só a sua legitimidade, como também a democracia.
Crónicas assinadas pelo presidente da ASPP/PSP, Paulo Santos, no jornal “Correio da Manhã”. 18.01.2023.