
A PSP: ENTRE O CARNAVAL E A REALIDADE
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Nesta época de Carnaval, onde a diversão e a irreverência são as palavras de ordem, é fácil deixar que as preocupações fiquem de lado. No entanto, o assunto que vou abordar não é para brincar nem para risadas; é um tema sério, que toca diretamente o futuro da segurança pública e, mais importante, o bem-estar daqueles que arriscam as suas vidas para garantir a nossa proteção. Falo da PSP e das sérias dificuldades que a instituição tem enfrentado nos últimos anos.
O recente estudo realizado pela ASPP/PSP sobre a conciliação da vida profissional com a vida familiar expõe um panorama alarmante. Se este grupo de profissionais não encontra um ambiente que favoreça o equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal, o que acontecerá com a renovação da corporação? A crescente falta de condições para atrair novos elementos pode colocar em risco a própria existência da PSP.
A realidade que se apresenta é dura e exige uma reflexão urgente. O estudo revela que mais de metade dos nossos sócios considera que a PSP não facilita a conciliação entre a vida profissional e a pessoal. Este dado não deve ser ignorado, pois revela uma desconexão crescente entre as necessidades dos profissionais e o que a instituição oferece.
Para os sócios mais "experientes", os desafios já são grandes. Para os jovens, porém, o cenário é ainda mais preocupante. Muitos deles nem consideram a PSP como uma carreira viável devido à falta de flexibilidade, às jornadas extenuantes e à gestão de recursos humanos que não leva em conta as suas realidades familiares.
Neste contexto, os desafios enfrentados pelos polícias são claros: jornadas de trabalho longas, falta de horários flexíveis, e a dificuldade em conciliar a vida familiar com as exigências profissionais. Este desajuste gera desgaste e insatisfação, criando um ciclo vicioso que, no futuro, poderá levar muitos jovens a optar por não seguir a carreira policial. Isso coloca em risco a renovação da força policial e, por conseguinte, a sustentabilidade da PSP.
Outro fator que agrava esta situação é a crescente falta de respostas para os problemas estruturais da PSP. Muitos profissionais trabalham em localidades diferentes das suas residências, o que dificulta ainda mais a conciliação entre o trabalho e a vida pessoal.
Além disso, a negativa de direitos como a jornada contínua e a flexibilidade de horários contribui para uma deterioração da qualidade de vida dos agentes. A ausência de uma política interna eficaz que procure uma reorganização da estrutura da PSP é uma falha que não pode ser ignorada.
É imperativo que o MAI permita que a PSP adote um dispositivo próprio de reorganização. A descentralização de funções, a revisão dos horários de trabalho e a promoção de um equilíbrio saudável entre as exigências profissionais e pessoais são soluções viáveis para mitigar os impactos dessa crise. Caso contrário, podemos ver esquadras a fechar as portas e um colapso no sistema de segurança pública, com consequências irreparáveis para a sociedade.
Não se trata de uma crítica destrutiva, mas de um apelo à mudança. O Governo e o Estado têm a responsabilidade de agir antes que a PSP chegue ao ponto de não conseguir mais cumprir a sua missão de proteger a sociedade. A reestruturação da instituição não é uma opção, mas uma necessidade urgente. Sem ela, a PSP corre o risco de se tornar uma instituição obsoleta, com uma força humana envelhecida e desmotivada. Este é um apelo ao bom senso, à sensibilidade e à ação. O Governo deve priorizar o bem-estar dos seus agentes e permitir que a PSP se reorganize de forma a assegurar o seu futuro.
Portanto, enquanto todos se divertem neste Carnaval, lembremos que há questões muito mais sérias a serem enfrentadas no campo da segurança pública. A PSP merece ser ouvida e tratada com a urgência e a seriedade que a sua missão exige. O futuro da polícia e, por conseguinte, da segurança do país, está em jogo.
Adelino Camacho