Da honra da PSP à vergonha da impunidade

Da honra da PSP à vergonha da impunidade

Da honra da PSP à vergonha da impunidade

Ao celebrarmos o 147.º aniversário do Comando Regional da PSP na Madeira, não posso deixar de enaltecer o papel fundamental dos homens e mulheres que, diariamente, garantem a segurança pública em todo o território insular, incluindo o Porto Santo, protegendo não só a população residente como também os milhares de estrangeiros que nos visitam. Nesta época de verão, particularmente exigente devido à multiplicidade de eventos musicais, culturais, religiosos e, mais recentemente, desportivos, como o futebol profissional, importa sublinhar o esforço e o sacrifício destes profissionais. São eles que, muitas vezes com meios limitados, asseguram que a tranquilidade e a ordem pública prevaleçam, mesmo perante desafios acrescidos.

Mas, se por um lado temos motivos para nos orgulhar, por outro há questões que continuam a assombrar o nosso país, como os incêndios florestais. Ano após ano repetimos a mesma tragédia: o fogo posto. E eu pergunto, até quando? Para quando a mudança de regras e de procedimentos que realmente façam a diferença? Porque não seguir o exemplo de outros países que, de forma pragmática, asseguram que os incendiários, ou melhor, os pirómanos, fiquem retidos em locais próprios durante a época crítica, evitando que coloquem em risco o território, a população e o nosso património? Não basta mudar a lei. Precisamos de medidas concretas, eficazes e corajosas. Recordo, a título de exemplo, o caso recente do indivíduo libertado do Estabelecimento Prisional do Funchal que, horas depois, terá ateado fogo na Ponta do Pargo. É incompreensível e inaceitável libertar alguém com este perfil precisamente na fase do ano em que o risco é maior. 

Outro flagelo que nos acompanha e parece não ter fim é a violência doméstica. Confesso o cansaço de tantas vezes abordar este tema, mas o problema não pode ser ignorado. Muitas vezes, só quando surgem imagens nas redes sociais é que se gera reação pública e institucional. Mas por que motivo casos anteriores, até mais graves, não tiveram o mesmo desfecho? Por que razão tantos agressores continuam a viver normalmente, atormentando as suas vítimas? Esta é uma pergunta que fica no ar, mas que exige resposta.

A tudo isto soma-se um fenómeno particularmente inquietante: a violência dos filhos contra os pais e avós. Os números falam por si: só no primeiro semestre de 2025, a PSP registou 3734 queixas deste tipo. A maioria diz respeito a violência psicológica, mas muitas vezes acompanhada de agressões físicas ou até de violência económica. Esta realidade está muitas vezes associada a dependências, quer de álcool, quer de drogas, bem como à incapacidade de muitos jovens ou adultos de se autonomizarem, regressando à casa dos pais e gerando situações de tensão insuportável. É alarmante pensar que dentro do espaço que deveria ser de proteção e carinho, tantos idosos vivem aterrorizados pelos próprios descendentes. Temos de encarar este fenómeno de frente e deixar de lado desculpas como a falta de espaço nas prisões ou os custos para o erário público. Se as prisões estão cheias, que se criem estabelecimentos próprios para estes agressores. Sim, porque quem levanta a mão a um pai ou a uma mãe não pode continuar a viver em família como se nada fosse. Temos de apostar em novas formas de prevenção, que comecem desde logo nas nossas casas, porque não basta confiar apenas na escola. Uma sociedade que normaliza ou relativiza este tipo de violência está a semear uma realidade cada vez mais dura e perigosa.

Vivemos tempos em que a violência cresce e se diversifica, e se não houver coragem política e social para intervir, corremos o risco de assistir a uma degradação ainda maior do nosso tecido comunitário. É urgente mudar. Não com palavras bonitas, mas com medidas concretas e eficazes, porque só assim a segurança pública — missão central da PSP e de todas as forças policiais — pode ser garantida de forma plena, protegendo a sociedade não apenas dos crimes visíveis, mas também dessas violências silenciosas que corroem famílias, comunidades e a própria dignidade humana.

Adelino Camacho

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