O altruísmo da PSP da Madeira em tempos de escassez

O altruísmo da PSP da Madeira em tempos de escassez

No próximo dia 2 de julho de 2025, a Polícia de Segurança Pública (PSP) celebra 158 anos de existência. Uma data simbólica que evoca uma longa trajetória de dedicação ao serviço público, marcada por coragem, sacrifício e um empenho constante em garantir a segurança das populações em todo o país, incluindo as Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores. Esta efeméride convida tanto à celebração quanto à reflexão.

Na Região Autónoma da Madeira (RAM), esta comemoração assume um significado ainda mais particular, num contexto em que a PSP tem vindo a abraçar funções cada vez mais exigentes e diversificadas, nomeadamente no âmbito da Proteção Civil. Atualmente, o papel da polícia vai muito além do patrulhamento urbano, assumindo responsabilidades cruciais na prevenção de incêndios florestais, no controlo sanitário em situações de pandemia, na segurança aeroportuária e na resposta a catástrofes naturais.

O Comando Regional da Madeira (CRM) tem sido um verdadeiro pilar nestas áreas, especialmente nesta época de verão, em que os desafios se intensificam. Apesar da reconhecida escassez de meios humanos, os profissionais da PSP têm demonstrado uma dedicação exemplar, com uma atuação marcada por altruísmo e sentido de missão. O envolvimento ativo na vigilância rural, o uso de tecnologias como drones através da Equipa VANT, e a articulação com entidades como o Serviço Regional de Proteção Civil, os Bombeiros, o IFCN, a GNR e o Comando Operacional da Madeira são apenas algumas das evidências desse compromisso.

Estes esforços são tanto mais notáveis quanto mais se agrava a realidade interna da instituição. A PSP enfrenta hoje sérios problemas de recursos humanos. A carência de efetivos tem um impacto direto na capacidade de resposta, sendo cada vez mais difícil assegurar patrulhas regulares e cumprir as novas exigências operacionais, como a fiscalização nos aeroportos da Madeira e Porto Santo. Estes desafios exigem reforço de pessoal, formação especializada e meios logísticos adequados.

Além disso, a idade média dos elementos da PSP continua a aumentar. Muitas funções operacionais exigem capacidades físicas e disponibilidade que nem sempre são compatíveis com um efetivo envelhecido. Apesar do esforço notável de muitos profissionais mais experientes, é urgente investir no rejuvenescimento da força policial, de forma a garantir a continuidade e eficácia do serviço prestado.

A acumulação de funções, a proliferação de serviços remunerados e a sobrecarga diária levam muitos agentes a sentirem-se isolados e desamparados. Chegou-se a um ponto em que a boa vontade e o sentido de dever já não bastam para colmatar as falhas estruturais. O sistema precisa de uma resposta clara e estratégica do poder político.

Neste 158.º aniversário, a PSP não pede apenas reconhecimento simbólico. É essencial que os governantes repensem o modelo de recrutamento, valorizem a profissão e criem condições para atrair jovens. A instituição precisa de sangue novo, estabilidade e respeito, não só pelo seu passado, mas pelo seu papel no presente e pelo que ainda pode oferecer no futuro.

Num mundo cada vez mais complexo, onde as funções da polícia vão desde o policiamento até ao apoio emocional em situações de crise, é fundamental garantir que há pessoas suficientes, com formação adequada, para responder a todas essas frentes. O trabalho da PSP está em todo o lado: nas ruas, nas escolas, nos eventos, nas montanhas, nos aeroportos. Mas os seus recursos já não acompanham o ritmo das exigências.

A celebração de mais de um século e meio de serviço deve ser também um momento de compromisso com o futuro. Uma polícia em défice de meios humanos e envelhecida arrisca-se a não conseguir responder eficazmente aos desafios do amanhã. É tempo de investir com seriedade e visão, respeitando quem, mesmo com tantas adversidades, nunca deixou de servir.

Adelino Camacho

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